Conhecido como “Capital Nacional do Agronegócio”, Sorriso (MT) amarga os efeitos da seca de 2024 sobre sua produção de grãos, figurando como segundo lugar no ranking dos 10 municípios da Amazônia Legal com maior prejuízo causado por eventos climáticos extremos. Em toda a região, o setor já perdeu R$ 40,5 bilhões entre 1991 e 2024, o que coloca a agropecuária como o setor mais impactado financeiramente por eventos climáticos
É o que aponta análise da InfoAmazonia, que indica que deste total R$ 36,2 bilhões dizem respeito à agricultura e R$ 4,3 bilhões à pecuária. O levantamento foi feito com base em dados fornecidos pelos municípios da Amazônia Legal ao Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.
Sorriso está em segundo lugar no ranking, atrás de Rondonópolis (MT), e é o município que mais contribui financeiramente para o setor da agricultura no país. Lá, a produção de commodities como soja, milho e algodão garante geração de emprego e renda a uma boa parte da população.
Em 2024 os produtores locais enfrentaram um ano inteiro de seca. A crise hídrica comprometeu o solo e, consequentemente, as plantações e o impacto não se limitou à venda dos produtos, afetando também a criação de gado. Em algumas fazendas, os animais ficaram sem alimento devido ao crescimento insuficiente das pastagens.
Foi o que descreveu Alberto dos Santos, coordenador da Defesa Civil da Prefeitura de Sorriso.
“É muito ruim porque a soja não floresce. O que era para colher no ano passado, não houve. O que restou, infelizmente, eles perderam. Os nossos produtores perderam, praticamente, toda a safra. Muitos precisaram fazer empréstimos e ainda estão pagando as dívidas por causa da seca. É um dinheiro que não está mais circulando na cidade”
Mato Grosso lidera ranking de perdas
O ano de 2024 teve o maior número de desastres já contabilizado pelos municípios da região: 1.416, o que representa de 19% de todos os eventos da série histórica e 23% de todo prejuízo financeiro (R$ 11,8 bilhões). As principais ocorrências foram incêndios florestais, com 43% dos eventos, estiagem e seca com 34%, e chuvas intensas com 7%.
Mato Grosso (MT) e Pará (PA) são os estados mais afetados financeiramente, considerando, além do agro, setores como comércio, indústria, serviços e poder executivo municipal. Entre os 10 municípios da Amazônia Legal com maior prejuízo, seis estão no MT e quatro estão no PA.
Situação pode piorar
Desde 1991, o evento climático que mais atingiu o agronegócio brasileiro na Amazônia Legal foi a seca. A agricultura e a pecuária perderam R$ 17,2 bilhões desde 1991, valor que representa 42% do prejuízo. As chuvas intensas e inundações compõem o segundo fator, representando 38% do valor.
“Uma característica das mudanças climáticas é o aumento de eventos tanto pela escassez quanto pelo excesso. Seja por ondas de calor, por episódios de seca ou por chuvas intensas que trazem consigo deslizamentos, vendavais e inundações de grande porte. Esse tipo de situação a gente tem acompanhado e tem sim a tendência de aumentar”, afirma Rafael Luiz, tecnologista de desastres naturais do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Emissões
Ao mesmo tempo, o agronegócio é o setor brasileiro que mais emite direta e indiretamente gases de efeito estufa, que levam ao aquecimento global e, consequentemente, a uma maior frequência de eventos extremos climáticos. Segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2023, a pecuária e a agricultura responderam por 1,68 bilhões de toneladas de carbono equivalente emitidas, o que representa 73% das emissões do país.
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