A Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) afirmou na terça-feira, 15/2, em nota, que a ampla oferta de suínos e custos elevados de produção determinam, neste momento, a pior relação de troca da história da suinocultura do País.
Em levantamento realizado pela entidade, em janeiro deste ano a relação de troca do suíno com o milho foi de 3,65 (com a venda de 1 quilo de suíno se compram 3,65 quilos de milho) e, com o farelo de soja, foi de 2,11. A média das duas primeiras semanas de fevereiro indicou um agravamento dessa relação de troca do suíno com o milho e o farelo de soja, chegando a 3,29 e 1,90, respectivamente.
Como base de referência, de modo geral considera-se como ideal, para que se tenha margem positiva na atividade, que 1 kg de suíno vivo seja suficiente para comprar ao menos 6 kg de milho ou, no mínimo 3,5 kg de farelo de soja. “Ou seja, o prejuízo contabilizado pela atividade neste início de ano é realmente assustador.”
A ABCS aponta vários motivos para o setor ter chegado a esta situação. As exportações da proteína suína para a China começaram a diminuir entre outubro de 2021 até janeiro deste ano, segundo a ABCS. No primeiro mês de 2022, o país asiático se manteve na liderança das aquisições do Brasil, mas isso não representou a metade das exportações.
“A Rússia que, ao anunciar cota de 100 mil toneladas para o primeiro semestre deste ano, representou uma esperança de compensar o recuo chinês, ainda se mostrou muito tímida nas compras, pelo menos em janeiro, com apenas 1.657 toneladas”, observou a entidade.
Em 2021 a disponibilidade interna de carne suína aumentou em mais de 284 mil toneladas, quando comparado com o ano anterior, resultando em incremento do consumo de 1,2 kg por habitante/ano, ou seja, crescimento de 7%, o maior salto da história em um ano.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que a média exportada de carne suína, nos primeiros nove dias úteis de fevereiro, ficou em pouco mais de 3,1 mil toneladas por dia, contra 4 mil toneladas diárias em fevereiro do ano passado, “indicando que não teremos, ao menos neste início de ano, crescimento significativo das exportações”, diz a ABCS.
A entidade relata que mais preocupante é a queda do valor da tonelada exportada, que, em fevereiro de 2021, foi de US$ 2.425 e agora (fev/22) recuou para US$ 2.166, tornando o mercado de exportação menos atrativo, o que também contribui para a queda de preço no mercado doméstico, em função de maior oferta.
Outro fator foi que a queda do preço de venda do suíno vivo foi agravada pelo custo de produção ainda em alta. Além disso, mesmo com a colheita da primeira safra de milho em curso, o milho segue em alta por causa da estiagem e quebra da produção na Região Sul. Os preços do farelo de soja também continuam em ritmo de alta, se aproximando dos R$ 3 mil por tonelada em algumas praças. Essa combinação de baixo preço de venda e alto custo dos principais insumos determinou, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), na primeira quinzena do ano, a pior relação de troca entre o suíno e o milho.
Para o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, o cenário de alta de grãos, agravado por uma oferta elevada de carne suína, indica, pelo menos no primeiro semestre de 2022, “um período de muitas dificuldades para o setor, que já vem amargando prejuízos desde o início do ano passado”.
A ABCS informa ainda que tem trabalhado junto ao governo federal, solicitando medidas emergenciais que possam amenizar este momento, além de trabalhar no incentivo ao consumo para fortalecer o mercado interno, diminuindo a dependência das exportações e escoando o excedente da produção.
Fonte: Estadão Conteúdo