No domingo, 13/3, a ministra da Agricultura Tereza Cristina conversou com representantes da companhia de fertilizantes Potash Brazil, em Ottawa, no Canadá, sobre a crise no setor e os atuais contratos que o país tem com o Brasil. O encontro, segundo matéria da Globo Rural, visa não só garantir os níveis atuais de compras do insumo em meio à guerra na Ucrânia, mas também expandi-los.
A Potash Brazil quer desenvolver a maior mina de potássio da América Latina em território amazônico, com a justificativa de reduzir a dependência de agricultores brasileiros nas importações dos insumos. “Para que o nosso país continue aumentando a oferta de alimentos e contribuindo com a segurança alimentar mundial, precisaremos de fertilizantes potássicos”, disse a ministra, em publicação no Twitter.
O incentivo à exploração de reservas da Amazônia não vem apenas por parte da empresa canadense e é inclusive alvo de um projeto de lei. O PL 191/2020 – que aguarda atualmente a criação de Comissão Especial na Câmara de Deputados – regulamenta a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em reservas indígenas, permitindo assim a extração de matéria-prima como o potássio, para a fabricação de insumos agrícolas.
No entanto, ao contrário do que a Potash Brazil e o PL determinam, as maiores reservas de minerais não estão na Amazônia. O portal Compre Rural aponta que tais reservas estão distantes de terras indígenas e, em grande parte, nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Sergipe.
“Segundo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) divulgado pela BBC, as reservas conhecidas de potássio localizadas fora da Amazônia Legal seriam suficientes para garantir o abastecimento do Brasil até 2089”, diz a matéria.
Custo de produção
Enquanto isso, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apresentou na semana passada um panorama sobre o peso dos fertilizantes no custo de produção das principais culturas agrícolas do país, conforme foi publicado pelo Canal Rural. A empresa estatal, em seu estudo, declarou que o percentual de participação de tais insumos nos custos para as culturas de soja, milho e trigo está dentro de uma margem de 30% a 40% em índices variáveis, a depender da região e do produto a serem analisados.
“No caso do trigo, os fertilizantes representam cerca de 33% dos custos variáveis em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, enquanto que no município paranaense de Cascavel o percentual chega a 38%. Para o milho 2ª safra, o peso destes insumos chega a 33% em Sorriso (MT). Já no cultivo de soja no município mato-grossense o percentual de participação dos fertilizantes atinge um índice de 37%”, disse a estatal.
Assim, diante do custo que a compra de fertilizantes traz, safra após safra, aos produtores, cabe a pergunta: dá para aliar a redução de gastos a alternativas mais produtivas para tais insumos? Para a Embrapa, é possível sim. Segundo a EBC, uma das frentes do Plano Nacional de Fertilizantes — lançado na última sexta-feira, 11/03 — será a Caravana Embrapa Fertibrasil. O objetivo será de orientar produtores sobre técnicas para aumentar a eficiência dos adubos, diminuindo assim a dependência em importações. “Com isso será possível economizar até 20% no consumo de fertilizantes, já na safra de 2022/2023, gerando uma economia de US$1 bilhão para os produtores”, diz a matéria. As viagens começam em abril e os pesquisadores devem visitar cerca de 30 polos produtivos do país.
A crise dos fertilizantes para os países orientais
A China já visualiza caminhos para contornar possível escassez no setor. De acordo com a CNN, o país iniciou a liberação de mais de 3 milhões de toneladas de fertilizantes de suas reservas comerciais para a próxima temporada de plantio no Hemisfério Norte. A expectativa é a de que mais insumos sejam liberados para atender à demanda do mercado durante o principal período agrícola “e o governo acompanhará de perto a situação do mercado para garantir oferta e preços estáveis”, disse o Comitê Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China em comunicado. A produção de fertilizantes do país asiático aumentou 0,8% em 2021, enquanto as exportações caíram 42% em relação ao ano anterior.
Já a redação do Monitor Mercantil trouxe dados relevantes de um estudo feito pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, sugerindo grande potencial de exportação de fertilizantes dos países árabes ao Brasil. Países como Egito, Líbano, Marrocos, Tunísia, Jordânia, Omã, Emirados Árabes e Arábia Saudita são capazes de exportar para o nosso país alguns dos principais produtos vindos da Rússia. O estudo se chama “Oportunidades para importações brasileiras dos Países Árabes no setor de fertilizantes” e foi elaborado pelo Departamento de Inteligência de Mercado da Câmara de Comércio Árabe Brasileira e apresentado para a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Brasil, Tereza Cristina, na última semana.
“O diagnóstico apresentado pela Câmara Árabe vai além da substituição do fornecimento russo e sugere que há potencial para importações maiores de insumos pelos países árabes ao Brasil no geral. O Marrocos, que exportou US$ 896 milhões em adubos para o mercado brasileiro em 2020, poderia passar a um valor de US$ 2,48 bilhões, o Omã dos US$ 65 milhões para US$ 1 bilhão, o Egito de US$ 90,7 milhões para US$ 1 bilhão, a Arábia Saudita de US$ 308,5 milhões para US$ 938,7 milhões, e a Jordânia de US$29,9 milhões a US$ 878,8 milhões”, diz a matéria do Monitor Mercantil.
LEIA MAIS:
‘Mudar lei ambiental não vai resolver o nosso problema com fertilizantes’
Plano Nacional de Fertilizantes propõe aumentar produção interna até 2050
Coalizão Brasil alerta que mineração em terras indígenas não resolve problema dos fertilizantes