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COP26: Balanço da primeira semana mostra promessas sem comprometimentos

COP26: Balanço da primeira semana mostra promessas sem comprometimentos

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Hoje, 8/11, faz uma semana que começou em Glasgow, na Escócia, a COP26, Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Até o dia 12, representantes de governos, setor privado e a sociedade civil têm uma semana decisiva para se chegar a acordos ambientais que tenham relevância, de fato, para atingir as metas estabelecidas no Acordo de Paris.

Diante de tantas informações, painéis e negociações, faz-se necessário um balanço do que ocorreu até aqui neste que é o principal encontro entre lideranças mundiais e especialistas no assunto para se discutir o futuro do planeta.

Logo no segundo dia da COP26,  1/11, mais de 100 países, incluindo Brasil e China, assinaram um acordo para proteção de florestas com meta de zerar o desmatamento no mundo até 2030. No dia seguinte, 97 países firmaram o Compromisso Global do Metano, que prevê uma redução coletiva de  30%, em relação aos níveis de emissão deste gáde 2020. E, na quinta, 4/11, 77 líderes se comprometeram a eliminar paulatinamente o uso de carvão,  o combustível fóssil mais poluente entre todos.

Quem lê assim pode ficar animado com as várias alianças estabelecidas entre os 120 líderes mundiais que passaram por Glasgow. O problema é que no acordo que prevê a eliminação no uso de carvão, por exemplo, ficaram de fora os campeões na utilização dessa matriz energética: EUA, China e Índia. Nas alianças apresentadas sobre desmatamento, não estão estabelecidas metas concretas e o acordo relativo às emissões de metano não prevê nenhum instrumento internacional que comprove seu grau de cumprimento, como bem lembrou o “El País” em uma reportagem em que colocava no título a “enxurrada de alianças etéreas” na COP26.

Ambientalistas também criticaram o valor irrisório anunciado no acordo com o objetivo de conter o desmatamento no mundo: US$ 19 bilhões (US$ 12 bilhões desses recursos são públicos) para ações ligadas à preservação das florestas, combate a incêndios, reflorestamento e proteção de territórios indígenas. O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, chegou a dizer que  US$ 12 bilhões “não é nada perto do que está posto na mesa, daquilo que está em jogo neste momento“.

Pra se ter uma ideia, a meta estabelecida no Acordo de Paris em 2015, que não foi atingida obviamente, era de US$ 100 bilhões.

É justamente o Acordo de Paris que terá o centro das atenções nestes próximos dias de conferência. Hoje o ex-presidente Barack Obama disse em Glasgow que “a maioria dos países fracassou” com as metas contra as mudanças climáticas estabelecidas há seis anos. Um dos principais impulsionadores do Acordo de Paris,  afirmou: “Não fizemos o suficiente para enfrentar esta crise. Teremos que fazer mais e isso dependerá muito de você”.

Nesta semana, os quase 2o0 países reunidos em Glasgow têm que finalizar as regras da implementação do pacto feito em 2015 e revisar de algumas metas relacionadas ao combate às mudanças climáticas, como a que estabeleceu  2°C como limite para o aquecimento global. Outros pontos do tratado, como o mercado de carbono, ganharão o centro das discussões nos próximos dias, uma vez que não há consenso entre os países.

Muita discussão ainda pela frente. Para ativista Greta Thumberg, porém, “não é segredo que a COP26 é um fracasso”. “Deveria ser óbvio que não podemos resolver uma crise com os mesmos métodos que levaram ao início dessa crise”, exclamou ela em discurso para 25 mil manifestantes que percorreram as ruas de Glasgow na  sexta-feira, 5/11.

Já o anfitrião do evento, Boris Johnson, tentou mostrar um pouco de otimismo. “Se há alguns dias eu disse a vocês que estávamos perdendo de 5 a 1 no jogo contra a mudança climática, depois destas duas jornadas eu diria que fomos capazes de marcar um ou dois gols e garantir uma prorrogação”, disse. É preciso dizer a Johnson que 5 a 2 não leva o jogo para prorrogação, mas para a vitória incontestável do adversário.