HomePantanal

Animais sucumbem à fumaça e ao fogo, que já atinge 1.8 milhões de ha

Animais sucumbem à fumaça e ao fogo, que já atinge 1.8 milhões de haMiranda foi encontrada acuada, dentro de uma manilha em uma fazenda. Foto: Reprodução/Ibama

Multas por uso irregular do fogo chegam a R$77,9 mi em Mato Grosso
Mês crítico: queimadas cesceram 105% em agosto
Corpo de Bombeiros aplica R$ 41,5 milhões em multas por uso irregular do fogo

Por André Garcia

As chamas que já consumiram mais de 1.8 milhões de hectares de vegetação no Pantanal não poupam os animais silvestres da região, que, sufocados pela fumaça, sucumbem também às queimaduras causadas pelos 100 incêndios florestais registrados em 2024. Neste ritmo, mesmo que sobrevivam, os bichos podem não ter para onde voltar.

Segundo boletim do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), divulgado nea terça-feira, 20/8, 569 animais foram resgatados em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Nos estados, que somam 7.618 focos de calor, profissionais dos bombeiros, Forças Armadas e Ibama, além de voluntários, lutam para salvá-los enquanto combatem o fogo.

Foto: Reprodução/ Agência de Notícias do Governo de MS

Este esforço garantiu a sobrevivência das onças-pintadas Miranda e Antã, encontradas no município de Miranda (MS) e encaminhadas ao Hospital Veterinário Ayty, na capital, Campo Grande. Elas foram salvas pelo Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal (Gretap) e pela Polícia Militar Ambiental (PMA) entre quarta-feira, 14/8 e sábado, 17/8.

De acordo com o governo sul-mato-grossense, o caso que requer maior atenção é o de Antã, nome que em tupi-guarani significa ‘forte’. O macho de 75 kg teve queimaduras de terceiro grau nas quatro patas e está com o pulmão comprometido, conforme apontaram exames de sangue, ultrassom e raio-x realizados nesta semana.

Foto: Álvaro Rezende/Agência de Notícias do Governo de MS

“Ele está com crepitações [som semelhante ao chiado] no pulmão que acreditamos ser causado pela inalação da fumaça de algum incêndio. É a partir desses exames que vamos verificar a real situação”, explica a coordenadora do Ayty, a veterinária Aline Duarte.

Um pouco menor, com 60 kg, a fêmea Miranda recebeu o nome do município onde foi encontrada. Ela teve ferimentos de segundo grau nas quatro patas, o que provavelmente causou uma infecção constatada em análise sanguínea. A veterinária conta que, embora também apresente alterações renais e no fígado, ela vem melhorando significativamente.

Foto: Diego Baravelli/ Reprodução: Comando Militar do Oeste

Na última quinta-feira, 15/8, o Comando Conjunto da Operação Pantanal II, do Exército Brasileiro socorreu uma anta próximo a reserva de São Francisco Perigara, em Barão de Melgaço (MT). Também com as patas queimadas, ela foi transportada em uma aeronave até a base Jaguar, onde recebeu o atendimento adequado.

De acordo com as Forças Armadas, que atuam no combate ao fogo nos dois estados, o trabalho exigiu precisão e cuidado: depois que profissionais da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT avaliaram a gravidade dos ferimentos, a anta, de cerca de 200 kg, precisou ser imobilizada pelos técnicos para que o voo fosse realizado.

Foto: Reprodução/CBMMT

Já nesta segunda-feira, 19/8, foi a vez do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso (CBMMT) resgatar um tamanduá-mirim, em Poconé. O animal foi entregue por um morador da região, que o encontrou com sinais de queimaduras em duas patas, além de marcas de mordidas de outro bicho.

O primeiro atendimento foi feito por uma equipe da Sema-MT e, na sequência, o mamífero, um macho jovem, foi encaminhado à clínica da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT,) em Cuiabá, onde os veterinários providenciaram medicamentos curativos. Até que se restabeleça, ele seguirá sob monitoramento na unidade.

Ameaça sem fim

Mesmo que multiplicados por mil, o número de resgates e o esforço extraordinário de todos os envolvidos neste trabalho não alcançaria todos os animais ameaçados na região, onde a situação já é considerada pior que a de 2020, quando o fogo causou a morte direta de cerca de 17 milhões de vertebrados.

Nesta que é a pior seca registrada no Pantanal nos últimos 70 anos, as chamas não cessam. Só na última semana, de 12 a 18 de agosto, a área queimada cresceu 158 mil hectares e já corresponde a 12,2% do território. De janeiro a julho, todos os incêndios registrados ali foram causados pela ação humana, segundo o boletim do MMA.

Crédito: MMA

Diante do cenário, só a persistência dos animais traz esperança. Miranda e Antã serão tratados agora com pomadas especiais para queimaduras e passarão por sessões de ozonioterapia e laser para agilizar a cicatrização. Na UFMT, cuidados veterinários também devem garantir o retorno do jovem tamanduá-mirim à natureza.

“Vamos acompanhar sua evolução que tem tudo para ser um sucesso. Ele é esperto e torcemos para logo estar de volta na natureza”, informou o gerente de Fauna Silvestre da Sema-MT, Waldo Troy, ao reforçar que o bicho está bem e apresenta um quadro de saúde estável.

LEIA MAIS:

Voluntários minimizam sofrimento de animais no Pantanal

Fogo faz animais agonizarem e rios virarem “deserto”

Animais morrem pelo fogo das queimadas e por frio extremo no MS

Situação no Pantanal exige efetivo cada vez maior de bombeiros

Uso de fogo está proibido em MT a partir de 1º de julho

Clima exige substituição urgente do uso fogo no campo

Ação humana: PF investiga origem de incêndios no Pantanal

Pantanal vive ‘uma das piores situações já vistas’, diz ministra

Além do Pantanal: fogo explode em 5 dos 6 biomas do País

Perda de safra e alta no fogo: Centro-Oeste só terá chuva em setembro

Pantanal pode ter áreas com perdas irreversíveis, diz presidente do Ibama

Pantanal registrou um incêndio a cada 15 minutos em junho

Força Nacional chega ao Pantanal para reforçar combate ao fogo

Força-tarefa para combate a incêndios no Pantanal é ampliada

“Queima controlada” no Pantanal será tratada como crime

Fogo no Pantanal já ameaça cidades e MS decreta emergência

Governo cria sala de situação para gerenciar crise no Pantanal