O fogo que vem assolando boa parte do Pantanal brasileiro nos últimos meses é consequência direta das mudanças climáticas, de acordo com um novo estudo de atribuição divulgado nesta quinta-feira, 8/8. Segundo a análise, as condições quentes e secas que agravaram os incêndios no bioma a partir de junho foram cerca de 40% mais intensas e de quatro a cinco vezes mais prováveis por conta dos efeitos do aquecimento global sobre o clima.
O estudo foi apresentado pela rede internacional de cientistas World Weather Attribution (WWA), que vem se destacando nos últimos anos com análises sobre o impacto direto da crise climática em eventos extremos específicos. No caso do Pantanal, a análise indicou que as condições que favoreceram os incêndios de junho passado seriam extremamente raras em um mundo com temperatura média 1,2oC inferior à atual.
Os pesquisadores analisaram variáveis meteorológicas referentes à classificação diária de severidade (DSR, da sigla em Inglês), como temperatura máxima, umidade relativa, chuva e velocidade do vento. A partir de modelos climáticos, a equipe da WWA observou uma forte tendência de seca sob a temperatura média global atual.
O clima mais quente e menos úmido resultante desse cenário é a receita para os incêndios que consumiram o Pantanal nos últimos meses. E a situação pode se agravar ainda mais nas próximas décadas se não houver uma contenção do aumento médio da temperatura global em 1,5oC neste século em relação aos níveis pré-industriais.
“Essas tendências continuarão com o aquecimento futuro. Se ele atingir 2oC, condições climáticas de incêndio semelhantes ao que se viu em junho se tornarão cerca de duas vezes mais prováveis, com previsão de ocorrer em média uma vez a cada 17 anos, e se tornarão 17% mais impactantes”, destacou a análise.
Barril de Pólvora
“A mudança climática sobrecarregou os incêndios florestais no Pantanal. À medida que as emissões de combustíveis fósseis aquecem o clima, o Pantanal está aquecendo, secando e se transformando em um barril de pólvora. Isso significa que pequenos focos podem rapidamente se transformar em incêndios devastadores, independentemente de como são iniciados”, explicou Clair Barnes, pesquisadora do Grantham Institute do Imperial College London, ao Guardian.