Por André Garcia
Em um ano marcado pela seca que atrasou o plantio da soja em boa parte do Brasil, a adubação verde pode ajudar os agricultores a driblar os impactos de mudanças climáticas. Aliada a outras iniciativas sustentáveis, como o uso de insumos biológicos, a estratégia trouxe incremento de 2 a 5 sacos de soja por hectare nos primeiros anos de implantação na Fazenda Aymoré, onde já é desenvolvida há sete.
Foi o que contou ao Gigante 163 Jorge Giacomelli, dono da propriedade localizada em Jaciara (MT). Lá, a adubação verde garantiu que as sementes encontrassem um solo mais saudável na época da semeadura, que começou apenas em outubro, com a chegada das chuvas. Isso porque, ela reduz a erosão, aumenta a infiltração de água e a retenção de umidade, fazendo com que as plantas se adaptem melhor às altas temperaturas.
“Temos adotado como estratégia em segunda safra. Então deixamos cerca de 30% da área sem milho safrinha para fazermos as correções com a adubação verde, que é importante para manter um solo mais bem estruturado e ajuda a proteger a soja do estresse hídrico, como o que vivemos neste ano”, disse.
Com isso, Jorge assegura a resiliência das culturas ao aumentar a capacidade das plantas de cobertura de enraizarem profundamente e mobilizarem nutrientes das camadas inferiores do solo.
Segundo a Embrapa, plantas como a braquiária, consorciada ou não com feijão-de-porco, podem aportar até 150 kg/ha de nitrogênio e 120 kg/ha de potássio durante a semeadura da cultura de verão. Mas, além destas, outras culturas podem ser utilizadas na formação de palha, como leguminosos, gramíneas e outras espécies adaptadas.
Quebrando ciclos de pragas e doenças
A rotação ou consorciação com plantas de adubação verde também quebra ciclos de pragas e doenças, reduzindo a pressão sobre a cultura principal. É o caso da cultivar BRS Guatã, variedade de feijão guandu lançada em dezembro pela Embrapa com potencial para controlar quatro nematoides de grande ocorrência, na soja e na cana-de-açúcar.
“Quando integrada à cultura da soja, a variedade não é hospedeira para a Phakopsora pachyrhizi Syd. & P. Syd, agente da ferrugem da soja. Também possui resistência moderada à Macrophomina phaseolina, fungo causador da podridão do caule”, diz trecho da pesquisa.
Assim, quando usada para adubação verde, a BRS Guatã possibilita o fornecimento de até 120 kg de nitrogênio por hectare por meio da decomposição da biomassa, que libera nutrientes importantes para o solo, como nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes, beneficiando o cultivo subsequente.
Diminuindo a dependência de fertilizantes minerais nitrogenados
Não à toa, esta também é uma das apostas para diminuir a dependência de fertilizantes minerais nitrogenados, ou seja, os fertilizantes químicos, que vem apresentando altas consecutivas no preço. Na Fazenda Aymoré a estratégia é reforçada na finalização do preparo do solo, quando é adicionado calcário, gesso e adubo.
“Vejo que os vizinhos também têm investido mais em calcário e gesso, isso ajuda a melhorar o sistema radicular e diminui a adubação fosfatada para equilibrar custos e melhorar sistema produtivo. Isso cria uma poupança no solo, e ajuda a economizar com fósforo e potássio que são alguns dos insumos mais caros”, afirmou.
Para se ter ideia, o MAP (fosfato monoamônico) que era comercializado por R$ 2.023 a tonelada em março de 2020, chegou a R$ 3.855 em março deste ano conforme análise feita pelas Comissões de Política Agrícola e Defesa Agrícola da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
“Neste ano plantamos a mesma área do ano passado, até mesmo porque estamos em uma região já consolidada, sem muito margem para expandir. Mas ainda que tivesse essa possibilidade, ao invés de aumentar a área plantada eu daria prioridade para a correção de solo com a adubação verde”, conclui Giacomelli.
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