A adoção de práticas agrícolas sustentáveis tem se mostrado uma alternativa eficiente para aumentar a produtividade e reduzir custos. Com isso, os produtores conseguem garantir que suas propriedades rurais continuem dando lucro por muitos anos. Em entrevista exclusiva ao portal Gigante 163, o professor Carlos Eduardo Cerri, do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ e coordenador do CCARBON (Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical), fala sobre o tema e explica que a sustentabilidade e a rentabilidade estão cada vez mais interligadas, sendo essencial que produtores compreendam os benefícios dessas práticas.
Sustentabilidade e rentabilidade andam juntas
Ainda existe o mito de que sustentabilidade e rentabilidade não podem coexistir, mas Cerri explica que essa visão está ultrapassada.
“Hoje, o mercado exige práticas sustentáveis. Quem não se adaptar pode perder competitividade”, afirma.
Além da crescente pressão de consumidores e mercados internacionais, a adoção de técnicas sustentáveis torna as propriedades mais resilientes às variações climáticas, ou seja, mais capazes de se recuperar rapidamente e manter a produtividade mesmo diante de secas severas, chuvas intensas ou mudanças bruscas de temperatura.
O professor exemplifica com dois produtores que trabalham em condições semelhantes: um adota práticas regenerativas, como rotação de culturas, plantio direto e manejo adequado do solo; o outro segue com métodos convencionais. Em anos de clima favorável, ambos apresentam resultados semelhantes, mas em períodos de estiagem ou excesso de chuvas, o produtor que investiu na sustentabilidade sofre menos impactos e mantém sua produtividade, enquanto o outro pode ter prejuízos severos.
Principais práticas sustentáveis que aumentam a lucratividade
Entre as estratégias que geram resultados positivos para a produtividade e a sustentabilidade, Cerri destaca algumas práticas essenciais.
A rotação de culturas melhora a qualidade do solo e reduz a necessidade de fertilizantes químicos, garantindo um ambiente mais equilibrado para as plantações. O uso de bioinsumos substitui defensivos químicos, ajudando a manter o equilíbrio biológico da lavoura e reduzindo impactos ambientais. Já o plantio direto evita a compactação e erosão do solo, permitindo maior retenção de água e nutrientes, fundamentais para o crescimento saudável das plantas.
Outra técnica eficiente é a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que maximiza o aproveitamento da terra e melhora a produtividade ao combinar diferentes sistemas de produção. Além disso, o controle biológico de pragas, ao substituir pesticidas por predadores naturais, reduz custos e minimiza impactos ambientais, tornando a produção mais eficiente e sustentável.
Além de preservar os recursos naturais, essas práticas reduzem gastos com insumos e tornam a produção mais eficiente no longo prazo.
“O solo mais saudável resulta em plantas e animais mais saudáveis. A consequência disso é maior produtividade e lucratividade”, explica Cerri.
Superando desafios e equilibrando custos
Um dos principais obstáculos para a adoção de práticas sustentáveis é o custo inicial de implementação, principalmente para pequenos produtores. Segundo Cerri, o ideal seria que programas de incentivo governamentais, como Plano Safra e ABC+, fossem fortalecidos, oferecendo crédito facilitado e juros reduzidos para quem adota métodos sustentáveis.
Ele também destaca que o setor urbano precisa valorizar mais os produtores rurais, pois são eles que prestam serviços ambientais essenciais, como a preservação de nascentes e a manutenção da biodiversidade.
“O produtor está no campo, enfrentando sol, chuva, inverno e verão, enquanto muitos desconhecem o esforço necessário para garantir alimentos de qualidade”, reforça.
Sustentabilidade: um caminho sem volta
A busca por práticas sustentáveis não é mais uma tendência, mas uma necessidade para a competitividade no agronegócio. Grandes mercados, como a União Europeia, já exigem rastreabilidade e certificações ambientais para produtos importados. No Brasil, cresce a demanda por produtos com menor impacto ambiental, embora o consumo ainda seja maior no exterior.
Cerri ressalta que a pressão do mercado já está forçando mudanças.
“Se um produtor oferece um alimento cultivado com práticas sustentáveis e outro não, qual deles terá mais chances de vender? O consumidor quer saber de onde vem seu alimento e como ele foi produzido”, afirma.
Brasil como referência em sustentabilidade no agro
Apesar dos desafios, o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, exigindo a preservação de até 80% das áreas dentro de propriedades rurais em alguns biomas. Cerri acredita que essa característica deve ser usada como um diferencial competitivo no mercado internacional.
Para fortalecer essa imagem, ele reforça a necessidade de combate ao desmatamento ilegal, que prejudica a reputação do setor agropecuário.
“São poucos que agem de forma errada, mas acabam manchando a imagem de toda uma classe. O Brasil tem potencial para ser referência mundial em agro sustentável, e para isso, precisamos eliminar práticas ilegais e valorizar os bons exemplos”, conclui.