Por André Garcia
O preço de fertilizantes e corretivos tem castigado o agricultor. Para se ter ideia, no ciclo 2022/2023 o custo de produção da soja por hectare foi 113, 2% maior que na última safra, segundo relatório do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).Neste cenário, a adubação verde pode ser a chave para o equilíbrio no orçamento, garantindo economia de até 50% na compra desses insumos.
Embora não seja exatamente novidade, a técnica é aliada número um dos bioinsumos e vem se popularizando porque, assim como eles, oferece possibilidade de lucro e sustentabilidade. Isso porque, a partir dela é possível incorporar, a depender da cultura, de 30 a 50 kg de nitrogênio por hectare, o que pode significar redução estimada entre 25% e 50% na aplicação de fertilizantes químicos.
Foi o que explicou ao Gigante 163 o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Silvio Spera.
“A adubação verde existe desde o Império Romano, mas, no nosso Estado começou a ser implantada nos anos 80. Dentre suas vantagens temos a recuperação do solo, a redução na dependência dos insumos e benefícios ao meio ambiente e à biodiversidade. Com o cultivo de matéria orgânica para o solo obtemos ainda a redução na incidência de ervas daninha”, diz.
A bióloga, doutora em Fisiologia e Bioquímica de Plantas Rafaella Felipe também ajuda a entender melhor o assunto ao resumir a técnica à incorporação de espécies de plantas a uma cultura principal, o que resulta no enriquecimento do solo com, por exemplo, nitrogênio e fósforo, melhorando as condições físicas, químicas e biológicas da área plantada.
“O fósforo que é tão precioso para nós que estamos no Cerrado e na Amazônia, é um insumo caro, que tem baixa mobilidade no solo. Então quando a gente favorece bactérias que vão fazer esse processo e fornecê-lo para as plantas, é maravilhoso. Temos também fungos que auxiliam na absorção desse fósforo e de outros nutrientes. Essas micorrizas vão crescendo em simbiose com as raízes”, conta.
Técnica serve para grandes ou pequenas propriedades
Considerada como uma prática simples, a adubação verde pode ser feita em propriedades pequenas ou grandes antes do plantio da lavoura principal, a exemplo do sorgo forrageiro e milheto, e dicotiledôneas, como o girassol, que formam a palhada que cobrem o solo. No caso das leguminosas, é possível citar a crotalária, mucuna, guandu e feijão-de-porco.
“Todas essas culturas produzem biomassa e fornecem maior aporte de nitrogênio à cultura principal. É importante, contudo, lembrar que a adubação verde não dispensa completamente a adubação química, elas são complementares”, afirma Silvio.
E você sabia que a soja, o carro chefe do agro mato-grossense, também pode ser considerada como adubo verde? Isso porque o grão possui atributos desejáveis para ser utilizado como adubo verde no verão em sistemas de produção diversificados, manejados conforme os preceitos da agricultura orgânica. “A soja é um adubo verde que faz um baita papel para o milho”, diz ele.
Para Rafaella, que coordena o projeto Gaia, voltado ao desenvolvimento da agroecologia em Sinop, estes são exemplos simples de como a diversidade de culturas no sistema é favorável não apenas para fertilidade do solo, mas também para a absorção de nutrientes pelas plantas. Daí a importância dos cultivos consorciados, sistemas integrados de produção e sistemas agro florestais, que vão beneficiar essa microbiota.
“Quando a gente pensa em uma monocultura, esse processo já é mais restrito, já que esses micro-organismos vivem de forma intensa em solos que têm diversidade de plantas. É uma junção de coisas. Sempre que falamos sobre adubação, temos que lembrar do papel dos micro-organismos assimilando, liberando e reciclando esses nutrientes no solo”, aponta.
Cuidados
Há espécies como leguminosas, que se associam a bactérias fixadoras de nitrogênio do ar, transferindo-o para as plantas. Estas espécies também estimulam a população de fungos micorrízicos, microrganismos que aumentam a absorção de água e nutrientes pelas raízes.
A Embrapa alerta que os benefícios trazidos pela associação entre leguminosas e bactérias fixadoras de nitrogênio podem ser obtidos através de práticas como a inoculação de sementes no momento do plantio. Este inoculante, que consiste num material que contém bactérias específicas para cada espécie de leguminosa, não pode ser usado em outras espécies.
Além disso, deve-se evitar o uso de fertilizantes minerais nitrogenados ou de agrotóxicos junto às sementes inoculadas, pois tais substâncias podem ser tóxicas para as bactérias fixadoras.
Ainda falando sobre precauções, Silvio destaca a importância de que os produtores não deixem o solo descoberto.
“É sempre bom fazer duas safras por ano, pensando em espécies com boa capacidade de enraizamento, e no plantio de muita massa verde. Só não pode ficar sem. Se não plantar, não deixe descoberto”, finaliza.
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