Por André Garcia
A área plantada de soja no Brasil cresceu 9 vezes em 39 anos, passando 4,4 milhões de hectares em 1985 para 40 milhões de hectares em 2023, número que corresponde ao tamanho do Paraguai. É o que aponta um levantamento inédito do MapBiomas divulgado nesta sexta-feira, 6/12, que analisou imagens de satélite de 1985 a 2023 para detalhar as mudanças no uso da terra no país.
Atualmente, o cultivo de soja representa 14% de toda a área destinada à agropecuária no Brasil, ficando atrás da pecuária, com 164 milhões de hectares, e à frente da cana-de-açúcar, que responde por 9 milhões de hectares. Juntas, as três culturas ocupam mais de três quartos da área destinada à agropecuária (77%).
De acordo com o MapBiomas, quase metade do território ocupado pela soja está no Cerrado, que concentra 19,3 milhões de hectares.
Apesar da vasta área de pastagens, Eliseu Weber, um dos pesquisadores de agricultura do MapBiomas, apontou que a soja é preferência, em relação à criação de gado, porque dá resultados mais rapidamente. Nisso reside o elemento econômico que justifica aos empresários a aposta nas commodities.
“Além disso, há um componente político, que é a inexistência de ações de conservação dessas fisionomias que são tão raras no Brasil”, disse.
A expansão da commoditie ocorreu por meio de diferentes tipos de conversão de terras. Entre 1985 e 2008, 30% da nova área de soja veio de vegetação nativa, somando 5,7 milhões de hectares. Outros 26% são provenientes de conversão de pastagem para soja (5 milhões de hectares) e 44% provenientea de outras áreas já antropizadas anteriormente (8 milhões de hectares).
No período mais recente, de 2009 a 2023, o padrão mudou. Apenas 15% da nova área de soja foi convertida a partir de vegetação nativa, totalizando 2,8 milhões de hectares, enquanto a conversão de pastagens representou 36% do total e áreas já alteradas somaram 49%.
Culturas temporárias
O estudo também revelou um crescimento significativo das culturas temporárias, caso da soja, da cana e do algodão, que triplicaram sua área nos últimos 39 anos. Em 1985, essas culturas ocupavam 18 milhões de hectares; em 2023, chegaram a 60 milhões de hectares.
Esse aumento foi observado em todos os biomas brasileiros, embora em ritmos diferentes. Na Amazônia, por exemplo, a área cresceu 417%, alcançando 66 milhões de hectares. No Pantanal, o aumento foi de 256%, totalizando 2,5 milhões de hectares. Já no Cerrado, a expansão foi de 68%, com a área chegando a 90 milhões de hectares.
Neste caso, o mapeamento identificou que cerca de 70% das áreas cultivadas com soja de primeira safra praticam mais de um ciclo por ano nos últimos sete anos. Mesmo áreas com expansão agrícola recente, como na Amazônia e no Cerrado, tendem a apresentar mais de um cultivo por ano.
“Nessas regiões, em especial, as mudanças climáticas em curso, com aumento da temperatura e redução da chuva, podem impactar consideravelmente a produção no futuro próximo, até inviabilizando um segundo ciclo”, explicou Eliseu Weber.
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