O futuro da agricultura tropical depende da integração entre áreas produtivas e vegetação nativa. A afirmação é de André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que participa nesta quinta-feira, 24/4, do evento internacional “GLF Forests 2025: Definindo a próxima década de ação”, em Bonn, na Alemanha.
“A agricultura tropical do futuro vai precisar de ter a vegetação nativa como parte do seu processo produtivo. Vamos ter que encontrar formas de integrar esses dois cenários como uma forma de proteger a agricultura do Brasil das mudanças climáticas. Isso é uma mudança de paradigma porque a prática atual é tirar a vegetação para fazer agricultura”, afirma Guimarães.
Segundo o diretor, cerca de 90% da agricultura no Brasil depende da chuva, enquanto o restante é abastecido pela água dos rios. Por isso, conservar a natureza é essencial para garantir as condições de plantio.
“O desenvolvimento em sinergia com o que precisamos para sobreviver ao clima inclui: 1) zerar o desmate, 2) prover assistência técnica rural, 3) compensar financeiramente a conservação e 4) redefinir a paisagem agrícola”, resume Guimarães.
Iniciativas para reduzir desmatamento
Durante sua participação no evento, o diretor do IPAM irá apresentar duas iniciativas voltadas à redução do desmatamento no campo. Uma delas é o programa CONSERV, que paga produtores rurais pela preservação de áreas de vegetação que poderiam ser legalmente desmatadas. Desde 2020, o programa já firmou 21 contratos com produtores rurais de Mato Grosso e Pará, protegendo mais de 20 mil hectares de vegetação e evitando a emissão de mais de 2 milhões de toneladas de CO₂.
A outra é o projeto GALO (Global Assessment from Local Observations), que investiga a relação entre agricultura e preservação da vegetação natural nos biomas Amazônia e Cerrado. A pesquisa analisa os efeitos das condições climáticas sobre a produtividade agrícola e é conduzida na Estação de Pesquisa Tanguro, um laboratório de campo coordenado pelo IPAM em Querência (MT).
Além disso, Guimarães apresentará dados sobre os biomas Amazônia e Cerrado, destacando o avanço dos incêndios, o desmatamento, o aumento da temperatura e a ocorrência de eventos climáticos extremos, como a seca no Amazonas em 2024, e reforçando sempre a conexão direta entre produtividade rural e conservação.
O GLF Forests 2025 é organizado pelo Fórum Global de Paisagens (GLF) e irá discutir a preservação de florestas como fator essencial para manter os serviços ambientais, a produtividade no campo e enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. O evento reúne lideranças de diversos países e será transmitido online mediante inscrição.