Cevada, mandioca, milho, óleo de palma, canola, arroz, sorgo, soja, cana-de-açúcar e trigo são as dez principais culturas globais e representam atualmente mais de 80% de todas as calorias das culturas em colheita. Ocorre que nem todas essas calorias e nutrientes são usados para consumo direto de alimentos por pessoas.
O fato acende o sinal de alerta em relação à desnutrição mundial e revela a dificuldade em se cumprir o segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas).
A colheita para processamento (ração animal, xarope de milho rico em frutose, óleos hidrogenados), exportação e uso industrial (etanol, bioplásticos, produtos farmacêuticos) aumentou globalmente. Se a tendência continuar até 2030, apenas 26% das calorias globais colhidas poderão ser para consumo direto de alimentos.
A conclusão é de um estudo publicado nesta quinta-feira, 12/5, pela revista científica “Nature Food”, que conta com a participação da pesquisadora no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), a brasileira Andrea Garcia. Ela e outros cientistas mapearam os 10 principais produtos agrícolas do mundo e sua destinação, num contexto de acirramento de disputas pelo uso da terra e de culturas no Brasil e no mundo.
Desde a década de 1960, mostram os mapas da pesquisa, a fração de culturas colhidas para consumo direto de alimentos diminuiu, enquanto a colheita para processamento (ração animal, xarope de milho rico em frutose, óleos hidrogenados), exportação e uso industrial (etanol, bioplásticos, produtos farmacêuticos) aumentou globalmente. Se a tendência continuar até 2030, apenas 26% das calorias globais colhidas poderão ser para consumo direto de alimentos.
Um exemplo no Mato Grosso
No Mato Grosso, por exemplo, a cidade de Nova Ubiratã está em uma das regiões com significativa destinação da produção agrícola de consumo direto para exportação e para alimentação animal. Enquanto a produção de mandioca, item que tem no município 35% da produção destinada à alimentação direta, foi de 1.748 toneladas, a produção de soja, com 1% destinada à alimentação direta, foi de quase 1,5 milhões de toneladas em 2020.
“Nossa mensagem principal é que a expansão agrícola não é a solução para a segurança alimentar mundial. São necessárias políticas muito bem construídas para a intensificação da produção de alimentos e a destinação do que é produzido na agricultura, de forma a garantir a segurança alimentar das pessoas que vivem em todos os países”, diz Garcia.
A insegurança alimentar no futuro
A pesquisa estima que pelo menos 31 países provavelmente deixarão de atender às suas necessidades alimentares até 2030, mesmo que todas as calorias colhidas no país sejam destinadas para o consumo direto de alimentos. Entre eles estão África do Sul, Arábia Saudita, Haiti, Iraque e Taiwan. Outros 17 países não serão capazes de atender às demandas alimentares de seu crescimento populacional esperado no mesmo período, o que poderá piorar a insegurança alimentar em suas populações – como Chile, Espanha, Moçambique, Nova Zelândia e Portugal. O Brasil está fora das duas projeções, mantendo-se autossuficiente na produção de alimentos.
Fonte: Ipam