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Agroecologia impulsiona produção de leite no Cerrado

Agroecologia impulsiona produção de leite no CerradoFazenda conta com rebanho de vacas Jersey. Foto: Reprodução/Instagram

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Por André Garcia

Com 80% da área preservada e tecnologias de baixo impacto ambiental, a Fazenda Buritizal, no distrito de Itaquara Sul, em Palmas (TO), tornou-se referência em sustentabilidade na pecuária leiteira. O uso de energia solar, pastejo rotacionado, biodigestores e manejo eficiente da água são pilares de um modelo produtivo que alia inovação, consciência ambiental e geração de renda no Cerrado brasileiro.

Ao projeto “Mãos da Transição“, a proprietária, Ariana Silva Braga, contou que a transformação começou em 2017, quando ela adiquiriu a fazenda com objetivo de trasnformá-la em um espaço para lazer com a família. A conexão com a terra e a visão sobre o potencial do leite, contudo, mudaram seus planos e consolidaram a vocação agroecológica da propriedade.

“Eu sempre pensei que ia só passar um final de semana lá e voltar para minha rotina na cidade. Mas as coisas foram mudando e ainda bem que mudaram, e minha cabeça também”, lembra Ariana.

Hoje, a fazenda trabalha com um rebanho de 29 vacas Jersey em lactação, em uma área de apenas 15 hectares dedicada à atividade leiteira. As demais áreas são utilizadas para recria de gado de corte e preservação ambiental, compondo um mosaico equilibrado entre produção e conservação.

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Tecnologia, pasto e energia limpa no Cerrado

A primeira grande decisão foi adotar o sistema de pastejo rotacionado para recuperar áreas já desmatadas, intensificar o uso das pastagens existentes e eliminar a necessidade de novos desmates. Hoje, o manejo permite lotações de até 13 unidades animal/ha — treze vezes acima da média nacional.

“O passo é aberto somente naquela parcela, com altura de entrada e saída controladas. Isso permite que o retorno ao piquete ocorra a cada 24 dias, o que nos garante alta produtividade”, detalha Ariana.

Para contornar os seis meses de estiagem típicos do Cerrado, a produtora investiu na irrigação das pastagens. O alto custo da energia elétrica, porém, levou a uma solução ainda mais eficiente: a instalação de uma usina fotovoltaica, que hoje abastece a bomba d’água e as cercas elétricas da fazenda.

“Nós fizemos um grande investimento e colocamos uma usina solar que garante irrigação o ano todo. Com isso, temos pasto para as vacas mesmo durante a seca”, conta ela.

Outra iniciativa de destaque é o uso de um biodigestor para tratamento dos dejetos da ordenha. O equipamento transforma esterco em biofertilizante, que é usado nas pastagens, e ainda abastece parte da estrutura residencial da propriedade. “Essas economias são muito importantes, já que a margem de lucro do leite é baixa. Como a gente trabalha com lucro de centavos, precisa dinamizar ao máximo”, afirma.

Mudança climática, parceria técnica e compromisso social

A seca de 2024, considerada a mais severa dos últimos anos, evidenciou a importância do planejamento hídrico adotado na propriedade. A gestão da irrigação foi feita com apoio técnico da Embrapa, utilizando dados de evapotranspiração e balanço hídrico para garantir eficiência sem desperdícios.

“Se a gente não tivesse um sistema bem gerido, não teria conseguido alcançar a média de produção. Passamos seis meses sem nenhum milímetro de chuva, e conseguimos manter a produção com técnica e responsabilidade”, destaca a produtora.

Ariana também reforça a importância das áreas de preservação permanente da fazenda, especialmente as matas ciliares que garantem o abastecimento do córrego que irriga os pastos. “Mais importante que o pasto é a mata ciliar do rio, que dá capacidade para ele ser perene e não secar na hora que a gente mais precisa”, defende Ariana.

Além dos ganhos ambientais, a produção da Fazenda Buritizal cumpre um papel social relevante. Parte do leite é destinada à merenda escolar, o que reforça o vínculo entre o campo e a alimentação saudável nas escolas públicas do Tocantins. “Eu me sinto muito orgulhosa quando o caminhão do laticínio sai daqui carregado para a merenda escolar. Tenho certeza da qualidade do leite que chega lá”, conclui.

Mão da Transição

Voltada a jovens produtores, a campanha ‘Mãos da Transição’ visa sensibilizar produtores com menos de 30 anos a adotarem práticas produtivas responsáveis, que fortaleçam e dêem continuidade aos negócios de suas famílias ao mesmo tempo em que respondem aos novos desafios do século 21.

Criada pela Purpose, agência de causas, ela engloba treinamentos, cartilhas e ações de divulgação na internet e redes sociais, que são os meios de comunicação mais acessados por jovens

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