Por André Garcia
A mais recente nota técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) alerta para os impactos da seca e das ondas de calor sobre a produção agropecuária no Brasil. No Centro-Oeste, a estiagem entre outubro de 2024 e março de 2025 afetou diretamente pastagens, cultivos e a disponibilidade de água em importantes bacias hidrográficas.
O relatório destaca que os impactos serão mais severos na produção pecuária, já que as pastagens da região foram afetadas pela seca prolongada e pela baixa umidade do solo. As áreas agroprodutivas sofreram mais nos meses de outubro e novembro de 2024, com novo agravamento em fevereiro e março de 2025.
Na agricultura familiar, o risco também aumentou. Em março de 2025, Goiás apresentou dois municípios com risco muito alto de perdas e outros 27 com risco alto, somando ainda dezenas de municípios com risco moderado. O levantamento considera os cultivos de milho e feijão plantados no início do ano.

Monitoramento do Impacto da Seca em Áreas Potencialmente
Agroprodutivas: outubro de 2024 à março de 2025. Crédito: Cemaden
A situação mais crítica registrada pelo Cemaden no Centro-Oeste é na bacia do rio Paraguai, que enfrenta escassez há mais de dois anos. Os níveis dos rios medidos nas estações de Ladário e Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, encerraram a estação chuvosa com valores cerca de 40% abaixo da média histórica.
Segundo o documento, embora as chuvas tenham trazido alívio parcial para algumas regiões, a falta de umidade no solo ainda compromete a recuperação plena dos rios e lençóis freáticos e prolonga os efeitos sobre a produção rural.
Safra comprometida
Além da irregularidade das chuvas, o relatório do Cemaden destaca que os impactos registrados no campo resultam principalmente do aquecimento acelerado do planeta. A estação chuvosa 2024/2025 coincidiu com o segundo verão mais quente já registrado no mundo, com temperaturas médias 0,73°C acima da média histórica.
As temperaturas extremas e as ondas de calor consecutivas, que afetaram amplamente o Centro-Oeste, são reflexo direto desse novo padrão climático, que tende a se repetir com maior frequência e intensidade nos próximos anos.
No caso do milho, o cenário resultou no plantio fora da janela ideal da segunda safra. Agora, produtores enfrentam problemas relacionados à falta de chuvas no período crítico e ao aumento das infestações de lagartas em diversas regiões de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Esses fatores aumentam o risco associado à atividade.
Adaptação
Entre 2023 e 2024, cerca de 60% do território brasileiro foi atingido por uma seca extensa e intensa, segundo o Cemaden. Mesmo com a chegada das chuvas entre novembro e março, 1.907 municípios ainda permaneciam em condição de seca moderada a extrema até o fim do período analisado. Clique aqui para saber se seu município está no mapa da seca.
No ano passado, a Embrapa apontou que entre as safras 2014/15 e 2023/24, cinco dos principais estados produtores — Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Sul e Paraná — deixaram de colher cerca de 160 milhões de toneladas da oleaginosa devido à estiagem. O prejuízo estimado ultrapassa US$ 80 bilhões
O cenário reforça uma tendência preocupante: eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes, prolongados e intensos, exigindo do setor agropecuário adaptação urgente às mudanças do clima, com planejamento, uso eficiente da água e práticas mais resilientes no campo.
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