Com pouco menos de meio centímetro, a Dalbulus maidis ou cigarrinha do milho, está entre as pragas mais temidas pelos produtores brasileiros. Capaz de dizimar lavouras inteiras, ela deixou de ser exclusividade da produção de sementes de milho e hoje afeta praticamente todas as regiões produtoras e nas diferentes fases do cultivo do grão, tanto primeira quanto segunda safra.
Na batalha contra o prejuízo, um importante aliado começa a ganhar espaço: os bioinsumos. Como já mostrado pelo Gigante 163, eles passaram a ser usados recentemente, em combinação com os químicos, diminuindo a resistência da cigarrinha do milho e aumentando a eficiência do controle, principalmente em plantações onde a incidência desses insetos já é muito alta.
O engenheiro agrônomo e gerente de desenvolvimento de mercado da Agrobiológica, empresa da holding Crop Care, Bruno Arroyo explica que, assim que a praga se tornou um problema sério dentro das lavouras, os produtores recorreram aos inseticidas químicos, que funcionaram em algumas aplicações, deixando o manejo ainda mais desafiador.
“Com o tempo, duas ou três aplicações já não eram tão eficazes quanto antes. E aplicações em grande volume, acabaram criando insetos resistentes a certos princípios ativos. Foi observado que os químicos entregavam uma média de controle de aproximadamente 60%, o que é bom, mas muitas vezes não o suficiente. E foi aí que muitos decidiram adotar o uso combinado com defensivos biológicos”, detalha.
Nesse cenário, o fungo Isaria fumosorosea é o princípio ativo mais utilizado atualmente. Mas, para uma ação mais assertiva de prevenção e eliminação da praga, outros agentes combinados em formulação, como metabólitos, esporos e estruturas já prontas do fungo no produto, tornam a aplicação mais eficiente, e oferecem um controle mais rápido, o que é um diferencial para o produtor.
De acordo com Arroyo, o fungo age no inseto por contato, seja na fase de ninfa ou adulto. Ele causa uma espécie de infecção na cigarrinha, uma vez que o produto é lançado na lavoura. A Isaria Fumosorosea, após o contato, forma uma colônia interna no inseto, servindo como fonte de multiplicação do fungo. Assim, caso esse inseto venha morrer, ele pode esporular mais fungos no ambiente, infectando outros insetos.
“Você continua tendo insetos contaminados no ambiente, o que ajuda em um controle residual a longo prazo, uma vez que a aplicação é combinada com produtos químicos”, diz.
O especialista destaca ainda que esse tipo de tecnologia de formulação diferenciada é chamada de Bioshock, presente no produto Aptur. Hoje, cerca de 1,5 milhão de hectares são tratados com essa tecnologia, apenas para o controle da cigarrinha do milho.
“O Aptur não danifica a planta e o ambiente, e ainda ajuda o produtor a garantir um controle a longo prazo durante todo o plantio, seja no uso combinado com produtos químicos ou não. Isso ajuda a reduzir gastos com produtos, aplicações, e mão de obra, uma vez que o controle se torna mais eficiente, aumentando a rentabilidade do agricultor.”
Manejo
Em relação ao manejo da praga, Arroyo deixa um alerta aos produtores: evitar os milhos “tiguera”. Essa planta voluntária, que cresce em áreas de outros cultivos ou em períodos de pousio, serve de abrigo para a cigarrinha, o que facilita a reprodução do inseto. É algo simples, mas a prática pode reduzir os impactos de uma grande infestação da praga.
Os sintomas da presença da cigarrinha só são observados após cerca de duas a três semanas da contaminação. Por isso, é importante que o produtor observe muito bem a plantação e seja capaz de identificar a presença do inseto, podendo entrar com um manejo preventivo, uma vez que a praga já esteja instalada.
“O período mais crítico, é o que chamamos de V4 a V6, onde a planta está definindo seu potencial produtivo, portanto, durante essas fases, ela está mais sensível a sofrer os impactos. É nesse período que o produtor deve ficar em alerta máximo, mas também é importante se manter atento desde a emergência da planta até a V8, onde a planta já está maior, porém igualmente exposta”, informa.
Segundo Bruno, áreas onde há ciclos de plantio durante o ano todo, são as mais afetadas. “A cigarrinha é um inseto vetor e tem uma capacidade de migração muito maior em relação a outras pragas. E quando o problema não é tratado corretamente, as consequências incorrem em grandes perdas. Em alguns casos, até mesmo de todo o plantio”, complementa.
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