Por André Garcia
A colheita de soja da safra 2024/25 está muito atrasada em todo Brasil em função do clima. Em Mato Grosso, principal produtor do País, chuvas intensas impedem o maquinário de entrar nas lavouras e esta já é a colheita mais lenta da série histórica da consultoria AgRural, iniciada em 2010/11.
Divulgado nesta segunda-feira, 20/1, o levantamento mostra que 1,7% da área cultivada no Brasil estava colhida até quinta-feira 16/1, contra 0,3% uma semana antes e 6% no mesmo período do ano passado. O número é semelhante ao 1,8% em data equivalente da safra 2022/23 e é o mais baixo para esta época do ano desde a safra 2020/21.
Diego Bertuol, produtor rural em Marcelândia e diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja MT), classifica o cenário como “alarmante” ao destacar que os índices de umidade de grãos avariados podem gerar descontos de mais de 50% nas cargas de soja que saem da região.
“Temos mais de 400 milímetros [de chuva] acumulados nos últimos 15 dias, impossibilitando as colheitas dos grãos prontos e também daqueles que já foram dessecados. Temos talhões com mais de 15 dias de dessecado, chegando a 20% de grãos avariados, outros com mais de 30% de umidade indo para o armazém”, explicou.
De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), até o momento, apenas 1,41% da área plantada foi colhida no estado, uma queda de 11,41% em relação ao mesmo período da safra anterior. Esse atraso também compromete a janela ideal para o plantio do milho, gerando ainda mais preocupação entre os produtores.
“Vale lembrar ainda que o produtor vem de uma safra de seca severa, perda agressiva no valor das commodities e, esse ano perda por chuva, então o produtor do estado do MT vê com preocupação a crise que se encontra o setor”, ressaltou Bertuol.
Cenário nacional
Na região Centro-Oeste, que concentra os principais produtores, a situação é a mesma. Segundo boletim da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Mato Grosso colheu 1,5% da sua área plantada, enquanto Goiás colheu 0,1% e Mato Grosso do Sul, onde o problema é a seca, colheu 3,0%.
Os dados, coletados até o dia 19 de janeiro, mostram que os trabalhos avançaram apenas 0,9 ponto percentual em relação à semana anterior e chegam agora a 1,2%. Na comparação com o mesmo período da safra 2023/24, quando 4,7% da área já havia sido colhida, há atraso de 3,5 pontos porcentuais.
Apesar dos desafios, na última semana a Conab manteve uma projeção positiva para a produção brasileira, estimando um aumento de 12,6% em relação à safra passada. De acordo com o órgão, a produção deve alcançar 166,33 milhões de toneladas, 18,61 milhões de toneladas acima do total produzido na safra anterior.
Logística e armazenagem
Além das perdas na qualidade dos grãos, os produtores enfrentam dificuldades logísticas agravadas pelo período chuvoso. Estradas não pavimentadas, cruciais para o transporte de grãos, estão em condições críticas, dificultando ainda mais o escoamento da produção.
“Em termos logísticos, temos também as estradas que foram severamente danificadas. Principalmente aquelas que não têm pavimento, e a gente sabe que a maioria das que são utilizadas pelos produtores para esse frete curto é estrada não pavimentada”, afirmou o vice-presidente da Aprosoja MT, Luiz Pedro Bier.
Outro problema antigo que volta a assombrar o setor é o de armazenagem, deficitária em todo o Brasil. Em Mato Grosso, segundo a Aprosoja, os poucos armazéns que recebem a soja não suportam a demanda e a falta de fornecimento de energia elétrica em diversas regiões inviabiliza a abertura de novos depósitos.
“Vemos filas se formando e cargas não sendo recebidas devido ao alto teor de umidade. Os produtores veem tudo isso com preocupação ainda mais atrelado à logística, impossibilitando que o produtor consiga levar o seu grão para os poucos armazéns que temos. Tudo isso encarece o custo por saca para o produtor”, disse Bertuol.
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