Por André Garcia
Tratado como alternativa aos métodos tradicionais e apontado como solução no combate à fome no País, sistemas agroflorestais (SAFs) já são utilizados nas regiões norte e noroeste de Mato Grosso, onde pequenos produtores já constatam economia e valorização de produtos após sua implementação.
O SAF estimula a plantação de espécies agrícolas (hortaliças e frutas) e florestais numa mesma área, permitindo, assim, colheitas desde o primeiro ano de sua implantação.
Conforme estimativa da Embrapa Agrossilvipastoril, de 2016 até 2019, a área com SAF na região norte de Mato Grosso aumentou em cerca de 1.000 hectares, passando de 706 hectares, segundo o Censo Agropecuário, para 1.700 ha.
Grande parte dessa expansão se deu com SAFs biodiversos, que são estratégias de integração de plantas, animais, tecnologias e manejos compondo diferentes arranjos ou formatações, procurando harmonizar interesses econômicos, ecológicos e longevidade produtiva. Outra estratégia muito adotada é o sistema silvipastoril biodiverso, com foco em pecuária, também conhecidos como “pasto muvuca”.
Transição e economia
É o caso do projeto Gaia, uma Rede de Cooperação e Sustentabilidade criada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em parceria com a Embrapa.
Uma das representantes do grupo é a bióloga Rafaella Teles Arantes Felipe, que dá a disciplina de Agroecologia na UFMT – Campus Sinop. Ao Gigante 163 ela explicou que a economia começa a ser percebida com a eliminação de gastos com agroquímicos, adubos e inseticidas.
“É claro que há economia para o produtor. Aqui na região estamos acostumados a ver os números astronômicos relacionados às safras de grãos, mas é preciso começar a considerar também as despesas que elas demandaram”, afirmou.
Também é o que disse à reportagem o coordenador de negócios sociais do Instituto Centro de Vida (ICV), Eduardo Darvin, que atua no projeto Redes Socioprodutivas. Neste caso, o foco é produção de orgânicos, que apresentam incremento de até 30% no valor em comparação a produtos convencionais.
“Os insumos são caros. Então, se antes o produtor ganhava R$ 1.000, pelo menos R$ 600 ficavam na loja, com defensivo, adubo etc. Agora, esse dinheiro fica no bolso dele”, disse Eduardo.
De acordo com ele, a Rede abrange seis municípios: Alta Floresta, Paranaíta, Cotriguaçu, Colniza, Nova Monte Verde e Nova Bandeirantes. Ali estão distribuídas 20 organizações de pequenos agricultores, dos quais 13 grupos já concluíram ou estão em fase de transição do modelo tradicional para a agroecologia.
Mestre e doutora em Fisiologia e Bioquímica de Plantas, Rafaella destaca que a principal caraterística dos SAFs é a preocupação com a saúde do solo e autonomia dos pequenos agricultores.
“Por enquanto trabalhamos com sistemas agroflorestais, com integração de árvores, arbustos, hortaliças, culturas agrícolas e em algumas áreas com a criação de abelhas nativas sem ferrão. Além de todo o benefício ambiental, esse conhecimento fortalece a renda das famílias”, afirmou ela.
Nos SAFs da região Norte do Estado são utilizadas espécies frutíferas como a banana, pequi, caju, goiaba, acerola, goiaba, cupuaçu, cacau, café, baru e castanheira; espécies florestais, exóticas ou nativas, como mogno africano, teca, eucalipto, ipê, jatobá, jequitibá, copaíba e cumaru; e espécies de serviços, como margaridão, gliricídia, bordão de velho, ingá, mutambo, embaúba e amarelinho, entre outras.
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