Por André Garcia
Em meio a uma crise que alia calor extremo e baixa umidade, o Brasil arde em chamas e já registra mais de 150 mil focos de calor este ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Com isso, a fumaça avança sobre fazendas e cidades, aumentando as ameaças à saúde de milhões de trabalhadores, principalmente rurais, expostos à insolação, doenças respiratórias, cardíacas e renais, além de câncer de pele.
A situação tem pressionado o sistema de saúde e causa preocupação, principalmente com idosos e crianças, conforme anunciado nesta segunda-feira, 9/9, pelo Ministério da Saúde. Isso porque, em um período que já tende a aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave, a fumaça resultante dos incêndios florestais libera partículas tóxicas no ar.
“A grande preocupação é com os idosos e as crianças, em função dos problemas respiratórios. Muitas pessoas sofrem, principalmente quem tem quadros de problemas alérgicos, mais intensamente ainda. É um motivo de grande atenção”, ressaltou a ministra Nísia Trindade.
A orientação é para que pessoas em regiões atingidas por nevoeiros de fumaça evitem, ao máximo, a exposição ao ar livre e a prática de atividades físicas. Ouvida pela reportagem do Gigante 163, a pneumologista Daniela Campos, destaca ainda a importância de que os trabalhadores usem sempre chapéus, guarda-sóis, óculos escuros, e filtros solares durante qualquer atividade ao ar livre.
“As empresas devem estar atentas a estes cuidados e reforçá-los junto aos trabalhadores. O que elas podem fazer é fornecer lanches mais leves e incentivar uma alimentação mais adequada. Embora não seja recomendado fazer refeições muito pesadas, também não é bom ficar longos períodos sem comer nada”, afirma a médica.
Recomendações
Como já mostramos, neste cenário o Ministério da Saúde recomenda a ingestão de água e de líquidos, como medida para manter as membranas respiratórias úmidas e, dessa forma, ficarem mais protegidas. O tempo de exposição deve ser reduzido ao máximo, devendo manter a permanência em local ventilado dentro de casa, se possível com ar condicionado ou purificadores de ar.
As atividades físicas devem ser evitadas em horários de elevadas concentrações de poluentes do ar, e entre o meio-dia e às 16h, quando as concentrações de ozônio são mais intensas. É recomendável ainda a utilização de máscaras do tipo cirúrgica, pano, lenços ou bandanas para diminuir a exposição às partículas grossas, especialmente para populações que residem próximas às áreas de focos de queimadas.
Calor extremo
Um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que pelo menos 2,4 bilhões de trabalhadores, ou cerca 70% da força de trabalho mundial, estão expostos aos impactos diretos e indiretos das mudanças climáticas, principalmente aqueles que atuam ao ar livre, como no caso dos trabalhadores rurais.
Os riscos à saúde existem porque a temperatura para o funcionamento normal do corpo é em torno de 37 °C. Uma temperatura corporal acima de 38 °C prejudica as funções físicas e cognitivas. Acima de 40,6 °C, os riscos de danos aos órgãos, perda de consciência e, em último caso, morte aumentam.
Vale destacar que a radiação solar contribui para mais de 18,9 mil mortes de trabalhadores anualmente por causa de câncer de pele. Assim, é recomendado o uso de filtros solares com fator de proteção mínimo de 15, que proteja também contra os raios UV-A. Os produtos devem ser aplicados 30 minutos antes da exposição e reaplicados a cada duas horas.
Nova realidade
A mentora de liderança em fazendas Iara Corrêa explicou ao Gigante 163 o impacto desta nova realidade na gestão das fazendas, que devem priorizar a segurança e a saúde dos colaboradores. De acordo com ela, a estratégia também minimiza riscos legais e financeiros, evitando processos judiciais, custos elevados com tratamentos médicos, indenizações e prejuízos à reputação da fazenda.
“Quando os trabalhadores estão seguros, eles podem desempenhar suas funções com mais confiança e produtividade, o que reflete diretamente na eficiência operacional da propriedade. Além disso, a implementação de medidas de segurança demonstra que a fazenda valoriza seus colaboradores, o que pode reduzir a rotatividade e aumentar o engajamento da equipe”, diz.
Por outro lado, a falta de segurança pode causar atrasos na produção e até mesmo a paralisação das atividades.
“A longo prazo, a reputação da fazenda pode ser comprometida, tornando mais difícil atrair e reter mão de obra qualificada. Em um cenário mais extremo, a falta de segurança pode levar à interdição da propriedade por órgãos reguladores, resultando em perdas ainda mais significativas.”
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