Por André Garcia
Mais leite, menos metano. Esse será o resultado do investimento nas “vacas do futuro”, animais da raça girolando melhorados geneticamente e criados em atenção aos critérios de conforto térmico e bem-estar animal. É o que mostra estudo da Embrapa Gado de Leite realizado em parceria com a Associação Brasileira de Criadores de Girolando, divulgado nesta semana.
Durante dez anos, os pesquisadores analisaram 69 mil animais, 21 mil animais genotipados e avaliaram 650 mil controles leiteiros e concluíram que, entre os anos de 2000 e 2020, os bovinos girolando emitiram 39% menos metano por quilo de leite produzido. E a produção de leite aumentou 60% no período.
Como já mostrado pelo Gigante 163, a emissão do gás pelos bois é afetada principalmente pelo nível de ingestão dos alimentos, pela digestibilidade da dieta e pelo teor de lipídios, o que varia de acordo com o grupo genético. Portanto, a aposta no melhoramento desta raça é uma estratégia promissora no enfrentamento das mudanças climáticas e na redução dos gases do efeito estufa (GEE).
Ao garantir a redução da pegada de carbono na agropecuária, o setor também daria uma resposta rápida às novas demandas do mercado. É o que explica a doutora em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bolsista da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Renata Negri.
“A pecuária pode contribuir significativamente para reduzir as emissões de carbono e promover sistemas sustentáveis em curto, médio e longo prazos, com o uso de animais mais resilientes, eficientes e adaptados às mudanças climáticas”, diz.
Conforto térmico e produtividade
De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Vinicius Gualberto Barbosa da Silva, o conforto térmico também é um dos principais responsáveis por fazer com que o gado girolando seja mais produtivo e ‘sustentável’ que o da raça holandesa, por exemplo. Isso, graças à sua tolerância a altas temperaturas, como as registradas na maior parte do Brasil.
“As vacas girolando, comparadas às Holandesas, tendem a ter melhores desempenhos produtivo e reprodutivo, apesar do aumento da temperatura e da umidade. Dessa forma, a raça contribui para que a oferta de matéria-prima para os laticínios seja mais estável, independentemente da estação do ano e das condições climáticas”, observa.
Na comparação entre as duas raças, a tolerância ao estresse térmico pode chegar a 10 °C de diferença. Nestas condições, as vacas podem deixar de produzir em média 1 mil kg de leite, considerando uma lactação de 305 dias. Em casos mais severos, as perdas superaram os 2 mil kg de leite por lactação. Isso significa que uma vaca pode deixar de produzir até 34% do seu potencial em uma única lactação.
Como surgiu a girolando?
Os pesquisadores explicam que o ótimo desempenho da raça para tolerância ao calor, mantendo a produtividade elevada, resulta do cruzamento do Gir Leiteiro com a raça Holandesa. O primeiro, de origem indiana (Bos indicus), soma séculos de seleção natural para suportar o clima tropical. Desde 1985, o Programa de Melhoramento Genético do Gir Leiteiro, também coordenado pela Embrapa, intensificou a seleção para características de produção, de reprodução e de adaptabilidade.
Já a raça Holandesa, de origem europeia (Bos taurus), foi selecionada tendo como objetivo a alta produção de leite. A soma de ambas as características por meio do cruzamento deu origem ao Girolando, reconhecida pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) como raça sintética nacional, desde 1996.
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