Você sabia que lodo de esgoto, cama de frango, hidrolisado de peixe e dejetos de suínos podem reduzir o patógeno que causa a podridão do colmo do milho?
Essa foi a conclusão do estudo de uma equipe de cientistas da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), que analisou o efeito da aplicação desses resíduos orgânicos para acabar com o inóculo de Stenocarpella, causador do problema
Os ensaios foram realizados com colmos de milho infestados com Stenocarpella, que receberam uma aplicação de cama de frango, esterco de suíno, hidrolisado de peixe e lodo de esgoto compostado, em concentrações semelhantes ao nitrogênio fornecido pela aplicação de ureia, na superfície do solo. Estes colmos de milho foram mantidos em condições de campo por três meses em Lavras e Sete Lagoas, (MG). Colmos infestados somente com o patógeno também foram mantidos na superfície do solo ou então incorporados ao solo, representando as formas de manejo realizadas pelos agricultores”, explica Mirian Faria da Universidade Federal de Lavras.
Houve redução da quantidade de Stenocarpella nas parcelas onde os colmos infectados pelo fungo foram mantidos na superfície do solo ou enterrados. Essa redução pode estar relacionada a diversos fatores, como o sistema de preparo do solo, que mantém um fornecimento contínuo de matéria orgânica aos microrganismos do solo, podendo ocorrer supressão de patógenos.
No sistema de plantio direto os colmos são mantidos na superfície do solo e frequentemente encontrados neste ambiente até o plantio subsequente. Também ocorreu redução da quantidade do fungo nas parcelas tratadas com lodo de esgoto.
Por outro lado, ressalta Faria, o esterco de suíno e a ureia não reduziram a quantidade de fungo nos colmos. Todas essas medidas foram realizadas por meio de análise da quantidade de DNA do fungo nos colmos.
Nenhuma das matérias orgânicas aplicadas resultou na redução de Stenocarpella no colmo quando comparado com os tratamentos em que os colmos foram enterrados ou mantidos na superfície do solo.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Wagner Bettiol, “esse efeito ocorre com certa frequência, pois a matéria orgânica aplicada nem sempre reduz a quantidade de patógeno no solo, mas sim reduz a incidência e/ou a severidade da doença por outros mecanismos, o que é de grande importância prática para o agricultor”.
Ainda de acordo com Bettiol, na literatura existem numerosos relatos onde o lodo de esgoto, o hidrolisado de peixe, o esterco de suíno e a cama de frango, entre outros materiais orgânicos, controlam várias doenças de importantes culturas.
Um aspecto importante, segundo o professor da UFLA Flávio Medeiros, é que as matérias orgânicas estudadas são fontes de nutrientes para as plantas. Entre os nutrientes pode ser destacado o nitrogênio, que apresentou níveis mais altos em ambos os locais estudados. Contudo, mesmo fornecendo nitrogênio às plantas, o papel da cama de frango sobre o inóculo de Stenocarpella não foi claro e pode até ter aumentado a quantidade do patógeno no solo.
Os resíduos orgânicos avaliados geralmente possuem capacidade de manter e/ou aumentar a atividade enzimática no solo pela incorporação de carbono, bem como alterar os teores de nutrientes essenciais para as plantas, como fósforo, cálcio, nitrogênio e micronutrientes.
Segundo Bettiol, essa informação é relevante, pois muitas vezes o aumento da atividade microbiana do solo e de alguns nutrientes é o responsável pelo controle da doença, mesmo não afetando a população do patógeno no solo. Além disso, esses nutrientes, presentes nessas fontes de matéria orgânica, são importantes para o desenvolvimento da cultura, podendo reduzir o uso de fertilizantes minerais.
O trabalho é de Mirian Faria, Rafaela Guimarães, Felipe Ferreira Pinto, Carolina Siqueira, Carlos Silva, Flávio Medeiros (Universidade Federal de Lavras) e Wagner Bettiol (Embrapa Meio Ambiente).
Fonte: Embrapa
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