Assim como na soja, os estragos causados pela dupla mudança climática e El Niño se estendem ao milho, que pode ter o desempenho da segunda safra prejudicado em Mato Grosso. Na região médio-norte, agricultores estimam perdas de até 50% no potencial produtivo da plantação.
O último relatório de acompanhamento da semeadura do milho segunda safra do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), publicado na sexta-feira, 22/3, mostrou que 100% da área prevista havia recebido as sementes.
“O tempo não está colaborando. Sol de 40 graus. Não tem planta que aguenta ficar 23, 24 dias sem chuva. Se não chover o milho vai se entregar e vai morrer mesmo. Está perdendo as folhas do baixeiro, está amarelando tudo”, contou o produtor Tiago Ceolin, em entrevista ao Canal Rural.
Em sua propriedade, localizada em Lucas do Rio Verde, mais da metade dos 780 hectares de milho sofre com a falta de umidade no solo. De acordo com Thiago, já seria difícil se recuperar do prejuízo causado pela safra de soja e, agora, a esperança no desempenho da segunda safra de milho ficou pelo caminho.
“Perdas de 40% a 50%. Entramos no plantio do milho, estava correndo tudo bem até um momento. E agora nos deparamos com a falta de chuva. Investimento de 85 sacas por hectare para colher em torno de 150/160. E já deu uma quebra, vamos falar por baixo hoje, em torno de 50%. Do jeito que está aí para mais”, disse.
Médio-norte
O cenário é o mesmo em Nova Mutum. Segundo o presidente do Sindicato Rural do município, Paulo Zen, a extensão a ser semeada fora da janela ideal do milho foi pouca.
“Isso que é o mais preocupante ainda. Onde não choveu na soja, aparentemente também não está chovendo no milho. São aqueles bolsões que ficaram secos na soja e tudo indica que vai acabar as chuvas antes também no milho”.
De acordo com Zen, já é possível observar as folhas do cereal enrolando, em especial nas áreas mais arenosas e elevadas. Além disso, o adubo lançado há pouco tempo sequer está sendo aproveitado pelas plantas.
Minimizando perdas
Para o diretor de pesquisa da Fundação Rio Verde, Fábio Pittelkov, o investimento no perfil de solo pode ser uma alternativa para minimizar as perdas no campo em períodos de déficit hídrico mais agressivos. Ele lembra que o volume de 59 milímetros de chuva no acumulado do mês de março, está muito abaixo do esperado.
“A gente vê que as áreas que têm uma melhor palhada, uma melhor construção de perfil de solo está sentindo menos essa estiagem. É claro que precisa chover. Não tem milagre. Não tem técnica que suporte uma estiagem ou baixo volume de chuvas, mas nessas áreas que temos construído um perfil de solo, temos mais sucesso”, concluiu.
Baixa umidade do solo
Recentemente mostramos que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu a expectativa para a segunda safra no Brasil, onde devem ser colhidos 87,35 milhões de toneladas do grão, queda de 14,7% ante 2022/23 (102,37 milhões de t).
A perspectiva de menor rendimento também foi reforçada pelo Modelo de Previsão de Rendimento da Gro Intelligence, que levou em consideração resultados de análises que apontaram para baixos índices de umidade do solo, o que é fundamental para o desenvolvimento das plantas.
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