Por André Garcia
A expansão agrícola no Cerrado brasileiro transformou vastas áreas de vegetação nativa em lavouras mecanizadas, impulsionando a produção de grãos como soja e algodão. O controle da devastação ganha agora um aliado que promete ampliar o monitoramento do bioma com mais agilidade e precisão, o que é fundamental para garantir tanto a conservação ambiental quanto o planejamento territorial e produtivo.
O sistema OPERA (Produtos Observacionais para Usuários Finais a partir da Análise de Sensoriamento Remoto), criado pelo Laboratório de Propulsão a Jato da NASA em parceria com a Universidade de Maryland, oferece alertas quase em tempo real sobre alterações na cobertura vegetal em qualquer parte do planeta. O recurso utiliza dados de satélites com atualizações a cada dois a quatro dias e resolução espacial de 30 metros.
“O grande diferencial é a capacidade de detectar rapidamente eventos de desmatamento e outras perturbações vegetativas, independentemente do tipo de ecossistema”, explica James MacCarthy, pesquisador associado do World Resources Institute (WRI), uma das instituições parceiras no uso da ferramenta.
Na comperação é possível visualizar como era a região em 2000 e em 2024. Imagem: Nasa
No Cerrado — bioma que abriga espécies emblemáticas como o lobo-guará, a onça-pintada e a raposa-do-campo — os dados do OPERA já evidenciam a intensidade da transformação da paisagem.
Um exemplo é a região oeste da Bahia, considerada estratégica para o agronegócio brasileiro. Comparações entre imagens dos anos 2000 e 2024 mostram como a vegetação nativa deu lugar a lavouras extensivas, com destaque para os sistemas de irrigação por pivô central e plantações em blocos retangulares.
Essas informações já estão disponíveis na plataforma Global Forest Watch (GFW), tradicionalmente voltada ao monitoramento de florestas tropicais, mas agora ampliada para contemplar também savanas, campos e outros tipos de vegetação.
Experiência global
Além do Cerrado, o OPERA já está sendo utilizado em iniciativas internacionais como o programa SilvaCarbon, do Serviço Geológico dos Estados Unidos, que capacita gestores públicos na análise de dados ambientais e no controle de emissões de carbono causadas por mudanças no uso do solo.

Alertas de perturbação da vegetação no Canadá durante o ano de 2023. Imagem: Nasa
“A tecnologia permite identificar alterações de forma mais rápida e em áreas maiores do que os sistemas anteriores”, destaca Sylvia Wilson, engenheira florestal e especialista em sensoriamento remoto do programa.
Outro exemplo do alcance global do sistema pode ser visto em um mapa com alertas de perturbação registrados no Canadá durante o ano de 2023.
As imagens e dados são do Observatório da Terra da NASA, com contribuições do Serviço Geológico dos Estados Unidos e do laboratório GLAD (Global Land Analysis and Discovery), da Universidade de Maryland.
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