Presidentes dos três principais bancos privados do Brasil declaram a plenos pulmões que é preciso acabar com o desmatamento para a sobrevivência do próprio agronegócio. Assim como autoridades brasileiras do Ministério da Agricultura têm dito, os representantes do mercado financeiro também não veem outro caminho que não seja trabalhar com a floresta em pé para que o ambiente de negócios sobreviva no futuro, com investimento na Amazônia Legal e suas comunidades com saberes tradicionais. O mato-grossense já percebeu que uma agenda ambiental nociva tende a cada vez mais fechar portas no competitivo mercado de exportação.
“A gente deve se juntar para mitigar os impactos negativos ao ecossistema. Investimos mais de R$ 70 milhões na região (amazônica), fundamental para o combate às mudanças climáticas, que não são mais uma tendência, mas uma realidade”, afirmou o presidente do Itaú, Milton Maluhy, durante live sobre o balanço de um ano do Plano Amazônia, organizado por instituições bancárias para fomentar o desenvolvimento econômico-sustentável na região.
Octavio de Lazari, CEO do Bradesco, reforçou o discurso do colega ao dizer que não se trata de “caridade, mas de business (negócios)”. “Nós temos uma obrigação com a sociedade brasileira. Não é caridade, é business, ter meta e buscar resultados”, afirmou. Para o banqueiro, o Plano Amazônia é um caminho para se chegar à emissão de certificados de boas práticas ambientais, inserido num mercado que funcione de maneira “regrada, com governança”.
“Nós precisamos é preparar os ribeirinhos, a população, os empresários, fomentar o empreendedorismo para que o mundo possa observar que a Amazônia não é terra de ninguém”, resumiu Lazari no evento Bioeconomia em Foco.
O CEO do Santander, Sérgio Rial, destacou a importância da rastreabilidade da carne para que a banda podre que compra o produto de áreas desmatadas ilegalmente não triunfe. “Existe claramente um consenso entre nós e os líderes de carne sobre a rastreabilidade. Isso é uma pequena semente num diálogo construído nos últimos 12 meses com o setor”, disse.
Rial questionou por que a Bolívia é líder na produção da castanha (castanha do Brasil) no mundo.
“Por que a Bolívia tem a supremacia do comércio da castanha? O que eles fizeram que não pudemos fazer?”, perguntou.
Para ele, outra frente defendida pelos banqueiros é a da regularização fundiária, apesar de o trio, segundo ele, não ter domínio sobre o assunto. “Nós três também trabalhamos com um plano de ação concreto (regularização fundiária) e não ficamos no campo das ideias”, reforçou.
Dos três banqueiros presentes na live, Rial foi o que admitiu que o setor financeiro esteve ausente da agenda ambiental ao longo de sua história, embora é sabido que bancos estrangeiros financiam atividades ilegais na Amazônia. “Historicamente, os bancos transitavam onde o PIB existia, e não onde as pessoas e as necessidades de futuro eram prementes, isso ficava a cargo dos bancos de desenvolvimento. Temos que trazer para cada um de nós a responsabilidade dessa agenda ambiental. Ver o setor privado com postura inclusiva e social e de responsabilidade ética é um sinal de uma nova liderança à frente das grandes plataformas financeiras do país”, arrematou.
Rial avaliou que a batalha deve ser geral, com participação de pessoas físicas e jurídicas.
“A gente tem obrigação de se tornar potência energética e verde, mas para isso só quando houver concertação entre os setores público e privado. Isso não é um tema de CNPJ, é também de CPF. Nós temos que trazer para cada um de nós essa agenda ambiental”, convocou.
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