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Embargo de exportação da carne deve desvalorizar gado de MT

Embargo de exportação da carne deve desvalorizar gado de MTEmbargo ocorreu após a confirmação de um caso atípico de EEB. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Os pecuaristas de Mato Grosso, que já vêm lidando com custos crescentes de produção e preços menores na arroba, se preparam para mais uma baixa, causada agora pelo embargo da China à sua carne bovina. A medida, adotada após a confirmação de  um caso de “mal da vaca louca” no Pará, deve desvalorizar o rebanho mato-grossense, o maior do Brasil, e faz com que setor reclame uma revisão no acordo sanitário entre os países.

Ao Gigante 163, o diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi, falou sobre o impacto na balança comercial causado pela confirmação do caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), ainda  que comprovado como atípico e isolado. De acordo com ele, antes mesmo da oficialização do embargo, na quinta-feira, 24/2, as compras e até embarques previamente agendados já tinham sido suspensos pelo país asiático.

“Os maiores impactados no primeiro momento são justamente os produtores. Os preços são regulados por escala, e, quanto mais longa for [a suspensão], menor o preço ofertado. Quanto mais tempo demorar para um desenlace, pior será para toda a cadeia”, disse.

Embora não tenham sido divulgadas estimativas sobre o prejuízo esperado, é possível ter uma ideia do impacto a partir dos números da balança comercial, onde os chineses figuram como os maiores parceiros do Estado. Só no ano passado foram destinadas a eles 64,12% das 605,44 mil toneladas em equivalente de carcaça (TEC) produzidas em Mato Grosso. Em receita, isso se traduz em cerca de US 183,69 bilhões.

Para o diretor-presidente da Acrimat, Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, o problema é reflexo de um “acordo mal redigido”, entre Brasil e China. Firmado em 2015, o protocolo sanitário de exportações não fez a diferenciação entre duas formas da doença, que pode ser caracterizada  como clássica e atípica. A diferença fundamental entre elas é que a atípica não oferece nenhum risco à saúde humana.

“Quando se identifica um caso, ocorre automaticamente o embargo. Isso significa que o Brasil para imediatamente de exportar para a China, provocando um caos econômico em toda a cadeia. No último episódio, em 2021, quando ocorreu situação semelhante, tivemos quase 100 dias para retomar as exportações, com prejuízos incalculáveis para o setor”, afirma Oswaldo.

Desta vez, pelo menos, a expectativa para o fim do impedimento é mais otimista. Em entrevistas recentes o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro, e o presidente da Associação de Comércio Exterior José Augusto de Castro, prospectaram, respectivamente, que as exportações podem ser retomadas em março e abril.

Ainda assim, a Acrimat informou que vai requerer a revisão do protocolo entre Brasil e China para exportação de carne bovina. Segundo a instituição, o objetivo do pedido é evitar que os pecuaristas fiquem “reféns” de casos semelhantes, que podem ocorrer esporadicamente.

Risco de transmissão

O embargo ocorreu após a confirmação de um caso atípico de EEB, conhecida como “mal da vaca louca”, em uma propriedade no município de Marabá (PA). De acordo com Manzi, considerando o rebanho brasileiro, de 33 milhões de cabeças, certamente  haverá outros registros. Entretanto, em sua opinião, o fato de serem isolados reforça a necessidade de uma mudança na visão dos compradores.

“O Brasil nunca teve caso algum de EEB clássica e seu risco é considerado pela Organização Mundial de Saúde Animal como insignificante, com o menor índice na avaliação. No caso de atípica não há a necessidade de embargo pois a fonte de infecção já foi eliminada”, afirma.

Sobre a possibilidade de  que o mesmo ocorra também em Mato Grosso, dono do maior rebanho brasileiro com mais de 220 milhões de cabeças, ele reforça a pontualidade da situação em Marabá. Lá, a doença acometeu um animal macho de nove anos, criado em pasto e sem ração. Ele já foi abatido e sua carcaça incinerada no local.

“[A doença] acontece espontaneamente em alguns animais velhos. Não é transmissível nem no mesmo rebanho e, muito menos, ainda para outros rebanhos. Trata-se de um caso isolado”, concluiu.